EXISTE CONTRADIÇÃO NA BÍBLIA? EXISTE CONTRADIÇÃO DA CARTA DE TIAGO COM A TEOLOGIA DO APÓSTOLO PAULO?
Como guisa de introdução, mencionarei a palavra “calma” para meus amados irmãos como lenitivo atinente a estes questionamentos. E ao longo da narrativa vamos descerrar sobre esse assunto e perquirir cuidadosamente se há controvérsia na teologia do apóstolo Paulo com as lições práticas de Tiago narrados em sua missiva.
Na teologia de
Paulo o homem é justificado pela fé, mas segundo Tiago, coluna da igreja
de Jerusalém, o homem é justificado pelas obras é não somente pela fé(
Tg 2:24).
Ambos esposam seus argumentos evocando a figura do patriarca Abraão, o pai da fé, o pai dos judeus.
Para legitimar seus argumentos, Paulo recorre às escrituras que diz:
Abraão creu em Deus, e isso foi lhe imputado como justiça (Gn 15:6), se
Abraão fosse justificado pelas obras, teria de se gloriar diante de Deus
é sua recompensa não seria segundo a graça, mas segundo a dívida (Rm
4:2-3). Todavia, àquele que não pratica, mas crer no Deus que justifica o
ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça (Rm 4:5). Porém Tiago é
meridianamente claro ao dizer: Porventura Abraão, o nosso pai, não foi
justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho
Isaque (Tg 2:21).
Por causa desse “conflito”, assaz estudiosos
tiveram dificuldades em entender os versículos em apreço. Um exemplo,
Martinho Lutero é profusamente infeliz ao considerar Tiago como carta
de palha.
Porém, amados irmãos, cremos que toda escritura foi
inspirada por Deus (2Tm 3:16), também cremos que o nosso Deus não é de
confusão (1Co 14:33). O evangelho não é fruto do intelecto humano, sua
origem é divina. Não é de Paulo, mas da pessoa teantrópica de Cristo.
Por acaso, Cristo está dividido? De maneira nenhuma! Portanto, Paulo não
é maior do que Tiago, pois o mesmo espirito que operou eficazmente em
Paulo operou eficazmente em Tiago. Logo, não deve haver contradição.
Então, como podemos concatenar estes argumentos? Vamos voltar no tempo.
A salvação sempre começou pela fé é sempre terminou pela fé. A maior
prova disso é que Abrão era ímpio, pagão e idolatra. Mas Deus que sempre
começa, excuta e finaliza a boa obra (salvação; Fp 1:6) fez uma
promessa para Abrão dizendo: “e far-te-ei uma grande nação” (Gn 12:2).
Abrão obedeceu às instruções do Senhor. Porém o tempo passou e nada da
promessa. Abrão e sua mulher já estavam velhos e para piorar a situação
Sarai (Gn 16:1), sua mulher, não podia gerar filhos. Diante disso, a
Abrão achou que a promessa iria se cumprir através do seu mordomo
Eliézer (Gn 15:2-3).
Porém, o Senhor levou Abrão para fora da sua
tenda e disse: Olha, agora, para os céus e conta as estrelas, se as
pode contar. E disse-lhe: Assim será a tua semente. E creu ele no
SENHOR, e foi-lhe imputado isto por justiça (Gn 15:5-6).
Pois
bem, após 24 anos, Deus faz um concerto com Abrão instituindo a
circuncisão a todo homem “e circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e
isto será por sinal do concerto entre mim e vós ( Gn 17:11) que
identificava o seu povo, como herdeiros do mundo Gn 17:10.
Convém lembrar, que a promessa de Abraão de que havia de ser herdeiro do
mundo não foi feita pela lei (Rm 4:13), até por que a lei só veio
quatrocentos e trinta anos depois (Gl 3:17).
Enfim, chegando à
plenitude dos tempos, o novo e vivo caminho (Hb 10:20), que é Cristo, os
argumentos usados por Paulo em diversas missivas tais como: Gálatas,
Filipenses, Romanos e outras para combater os paladinos da mentira que
negavam a suficiência de Cristo acrescentando a circuncisão como
requisito para a salvação. Resumindo, para gozar dos benéficos da
salvação e de pertencer à linhagem dos judeus que foram escolhidos por
Deus deste Abraão. Os gentios deveriam ser circuncidados. Somente crer
em JESUS não era suficiente. Portanto, eles deveriam acrescentar na sua
vida cristã os ritos mosaicos é um deles era a circuncisão.
Empavonados no seu legalismo, esses paladinos da mentira, fanáticos,
religiosos e cegos que não compreenderam que a circuncisão, os
sacrifícios, a lei mosaica era apenas sombras dos bens futuros e não a
imagem exata das coisas (Hb 10:1).
Cito aqui as belíssimas
palavras de Paulo em Romanos “por que não é judeu que o é exteriormente,
nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que é
no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na
letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus (Rm 2: 28-29).
Resumindo, Paulo está querendo dizer que após Cristo ser introduzindo no
mundo, Ele que é a imagem do Deus invisível (Cl 1:15) a circuncisão
deve ocorrer no coração. Paulo diz a circuncisão virou apenas uma
mutilação, um corte que não tem significado nenhum. E diz a igreja de
Filipenses: nos somos a circuncisão e não confiamos na carne, ou seja,
dos privilégios e méritos (Fp 3:3).
Também podemos citar o caso
do próprio Abraão que foi justificado na incircuncisão, que recebeu a
promessa de ser herdeiro do mundo sem lei. Por que na verdade a lei
exige perfeição, com isso, ela acaba revelando o nosso pecado e nos
colocando debaixo de maldição e frustação. Resumidamente, Abrão foi
justificado pela fé e não por observar os ritos da lei.
Mas quem seria esse paladino da mentira?
Pois bem, sabemos que ao apóstolo Pedro, uma das colunas da igreja de
Jerusalém foi confiado o evangelho da circuncisão e ao apostolo Paulo o
da incircuncisão (Gl 2:7), resumindo: Pedro anunciava o evangelho aos
judeus é o apostolo Paulo anunciava o evangelho ao gentios. E muitos dos
judeus se convertiam ao Senhor Jesus Cristo, porém alguns desses judeus
legalistas acrescentavam a lei de Moises, fazendo do cristianismo uma
seita judaica. E isso era muito perigoso, ou seja, o evangelho centrado
na pessoa de Cristo estava correndo risco. E esses judeus convertidos
(judaizantes) estavam perturbando as igrejas e pervertendo o evangelho.
Esses falsos mestres (judaizantes) colimando objetivos nefastos estavam
ladrando suas heresias e salopando o evangelho anunciado por Paulo e
seu apostolado dizendo que ele não fazia parte dos doze apóstolos
comissionados por Cristo e ainda acusavam de “ignorar” os ritos mosaicos
com o pretexto de agradar aos homens (Gl1:10). A influencia deste
judaizantes que estavam trovejando suas heresias era tão intensa, que
Pedro, líder da igreja de Jerusalém estava neutro atinente a estes
fatos, não tinha coragem de desafiar esses cães, maus obreiros, esses
falsos circuncisos (Fp 3:2), a ponto de Paulo lhe resistir na cara, por
que era repreensível, por que, antes que alguns tivessem chegado da
parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi
retirando e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão (Gl
2:11-12). Por isso no livro de Atos no capitulo 15 temos a famosa
Assembleia para discutir esse assunto.
O resultado não poderia
ser outro “porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem
de vós, é dom de Deus; não vem de obras, para que ninguém se glorie (Ef
2: 8-9). Também vale destacar que a fé não é mérito do homem, mas é dom
de Deus. Pois bem, se a salvação é pela fé em Cristo Jesus, se a
salvação não depende da circuncisão (obras da lei), como entender a
“contradição” de Paulo e Tiago?
E por meio da fé que o homem
apropria-se da justificação. E sabendo disso, Tiago, irmão de Jesus,
apenas complementa a teologia de Paulo, mostrando a evidencia da fé
verdadeira. As obras é a consequência da fé verdadeira e genuína. Para
Calvino “Somos justificados diante de Deus pela fé, somos justificados
diante dos homens pelas obras. Deus pode ver a nossa fé, mas os homens
só podem ver as nossas obras”.
A graça, paz, bondade é a misericórdia seja sobre sua vida amigo leitor.
William Estevão
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